Para onde vão as ações preferidas?

Os papéis preferenciais da Petrobras e Vale são os carros-chefes do Ibovespa, com participação relativa de 16,6% e 12,15%, respectivamente, na carteira teórica do principal índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo. Os investidores costumam ser atraídos pela forte liquidez e pela solidez dos fundamentos das duas empresas. Embora muitos deles observem Petrobras e Vale com perspectiva de longo prazo, notícias ruins também cobram o seu preço no curto prazo – mesmo gigantes sofrem com dias ruins. Para os analistas, o desafio é tentar dimensionar o efeito dessas informações nas semanas e meses à frente.

O desempenho projetado para as ações da Petrobras no segundo semestre passou a incluir nos últimos dias uma variável de incerteza: pela primeira vez, um poço perfurado na camada do pré-sal na Bacia de Santos não se mostrou promissor. Mas a notícia, avaliam os analistas, não compromete a confiança no potencial – reconhecido como enorme – do pré-sal. A avaliação comum é de que insucessos pontuais são parte do processo de exploração geológica. 

“Acendeu uma luz amarela, mas é muito cedo para dizer que mesmo o desempenho deste bloco (operado pela Exxon) esteja comprometido. Existe inclusive a possibilidade de haver uma terceira perfuração. É cedo para dizer que não é viável”, afirma o analista do setor de petróleo da Ágora Corretora, Luiz Otávio Broad, em referência às duas perfurações mal-sucedidas no poço Guarani - a notícia não alterou a recomendação de compra, feita pela corretora, para os papéis da companhia.

O fato de que a Petrobras tem uma participação minoritária nessa área, de cerca de 20%, alimenta a avaliação de que a própria estatal não a consideraria entre as mais promissoras.  “Um poço seco não é, necessariamente, um fracasso total”, observa relatório da Itaú Securities. “Mas este é, com certeza, um bom exemplo confirmando que é preciso ser cauteloso para não pagar muito antecipadamente”, acrescenta a análise da corretora, que já havia cortado em 25% o potencial de reservas da região conhecida como Pão de Açúcar, onde está localizado o bloco BMS-22, no qual foi identificado o poço seco.

“A Petrobras apresentou um desempenho 18,5% inferior ao Ibovespa desde 1º de abril, um grande motivo para não ser demasiadamente agressivo na tomada de uma posição vendida na ação”, acrescenta o relatório da Itaú Securities divulgado na terça-feira, no qual projeta performance do papel preferencial da Petrobras em linha com a média do setor.

Cautela com preço do barril

Há corretoras que estão cautelosas e recomendam “manutenção” dos papéis da estatal, por diferentes razões. Em relatório, o Banco Fator lista riscos como o de que a alta verificada nos últimos meses no preço internacional do barril de petróleo não seja sustentável, tendo sido alimentada mais pelo investimento financeiro do que propriamente por uma recuperação consistente da demanda mundial.

“Há indicações de que o barril esteja agora num nível mais adequado de precificação, o que restringe o potencial de avanço dos papéis da Petrobras no segundo semestre. Há também as questões de regulação e a notícia ruim sobre o poço seco detectado pela Exxon em um área do pré-sal”, observa o analista-chefe da Link Investimentos, Andrés Kikuchi, acrescentando que, ainda assim, os papéis preferenciais da Petrobras, bem como os da Vale, têm potencial de valorização de 30% a 35% até o final do ano.

“O cenário era muito negativo, quase catastrófico, para as commodities no início do ano. Mas ao longo do primeiro semestre, vimos uma recuperação consistente do preço do barril do petróleo, que passou de US$ 35 ou US$ 40 para mais de US$ 70 no encerramento do primeiro semestre. O cenário acabou se mostrando mais brando do que o esperado”, acrescenta ele.

Metais e minério

Segundo o analista-chefe da Link, o comportamento de metais muito demandados no mercado spot, como cobre e níquel,  ampara essa percepção de que o cenário não é tão ruim quanto se desenhava para as commodities no primeiro semestre – o que pode favorecer em especial as ações da Vale, segunda maior produtora mundial de níquel e detentora das maiores reservas deste metal no mundo, segundo relatório da corretora Geração Futuro, que projeta preço-alvo de R$ 36,61 para os papéis preferenciais da companhia no fim do ano.

A demanda chinesa, que dá sinais de recuperação antes do previsto, pode ajudar a valorizar as ações da Vale no segundo semestre, avalia Kikuchi. Maior produtora e detentora de reservas de minério de ferro no mundo, os papéis da companhia já precificaram em boa medida a revisão dos contratos com as principais siderúrgicas globais, excluídas as chinesas - estas ainda não fecharam os novos números. Até o momento, os cortes de preços já efetivados foram piores do que o esperado, com reduções entre 28% e 40%, o que afetou as ações da companhia no primeiro semestre.

Em relatório de julho, a Coinvalores avalia que, no curto prazo, os elevados estoques de minério de ferro na China e a indefinição nas negociações de preço com o país seguem como fatores de risco para os papéis da Vale, embora a corretora mantenha a recomendação de compra para as ações preferenciais da companhia, com preço-alvo projetado em R$ 41. “A Vale é uma boa opção para quem olha o médio/longo prazo, lembrando que a China é o país com maior potencial de crescimento no cenário atual e que a companhia está entre as líderes mundiais do setor”, conclui o relatório.

 

Agencia Estado

 

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